O desnorte de Jesus

Jorge Jesus está desnorteado. Acho que o título do ano passado lhe subiu à cabeça da pior forma.

Após a conquista do título, JJ parece ter-se auto-convencido de que o mérito era todo, ou quase todo, seu (esquecendo a excelente equipa de que dispunha), que era já de um dia para o outro um grande treinador, um “catedrático” como ele próprio se definiu, e que a partir daquele momento seria capaz de qualquer coisa com facilidade – nomeadamente a conquista do bi-campeonato. Com carta branca, escolhendo, decidindo e mandando a seu bel-prazer - esquecendo-se de que ninguém ganha nada sozinho, ninguém é infalível, ninguém pode dispensar conselhos alheios.

A falta de humildade, além de não ser uma característica dos verdadeiros campeões (apenas dos vencedores ocasionais, o que não é o caso do Benfica), costuma ser má conselheira. Não há nada pior do que um profissional, ainda por cima numa posição de liderança, que não reconhece e nem quer conhecer as suas limitações e os seus pontos fracos.

Já o ano passado me tinham surgido quanto à sua capacidade de construir e gerir o plantel – as dispensas de Shaffer e Urreta, enquanto se mantinham no plantel por exemplo César Peixoto e Filipe Menezes, e se contratava Éder Luís, fizeram-me torcer o nariz – disse-o, e escrevi-o.
Este ano a coisa piorou. Jogadores como Shaffer e Felipe Bastos (que está a fazer uma boa época no Brasil) parecem definitivamente descartados sem sequer terem merecido uma segunda oportunidade. Urreta voltou a ser emprestado, apesar de parecer ser uma boa alternativa para a saída de Di Maria. É escolhido Gaitán para substituir Di Maria quando essa não é a sua posição natural. Jara nem sequer é opção. A saída de Ramires não estava minimamente acautelada e tivemos de ir buscar à pressa o Sálvio, por empréstimo. Rodrigo é contratado para emprestar.

Eu sei que Mourinho também faz isto. Trabalha só com os jogadores de quem gosta, contrata quem bem entende, encosta quem quer. Mas Jesus não é Mourinho, e o Benfica não tem capacidade económica para desperdiçar milhões de euros em experiências, “jogadores para o futuro” (Rodrigo), “jogadores de risco” (que foi como o próprio Jesus classificou Gaitán e Jara numa entrevista), enquanto dispensa e empresta outros jogadores de valor – mas que não foram contratações do treinador e de quem este por alguma razão “não gosta” nem se esforça por integrar e valorizar.

A época tem sido o que se sabe. A capacidade goleadora da época passada esfumou-se – temos 13 golos em 10 jogos, à média ridícula de 1,3 golos por jogo, contra os quase 3 da época passada. A diferença entre golos marcados e sofridos é… 2! Perdemos 7 dos 17 jogos oficiais esta época, sendo 5 dos 7 jogos disputados fora.

Jesus não parece encontrar solução para os jogos fora com adversários de maior valor. Ou entra na basófia de “o Benfica joga sempre da mesma maneira” e vai jogar “de peito aberto” na Alemanha e em França, ou no jogo com o fcp entra em pânico e resolve mudar tudo – destruindo as rotinas quer defensivas quer atacantes da equipa, com 3 jogadores fora do seu lugar e a inclusão a titular de um jogador sem ritmo (ainda por cima repetindo na defesa uma fórmula que já se tinha revelado desastrosa em Liverpool há poucos meses).

Recordo, penosamente, que os três últimos jogos com o fcp (dois “lá” e um em terreno neutro, no espaço de 6 meses) se saldaram em três derrotas, um golo marcado e dez sofridos. Isto dói, e dá que pensar, e volta a doer.

Para culminar, JJ nunca assume culpas. Ele é um “catedrático”, a culpa é sempre ou de outros ou das circunstâncias – foram as saídas de Di Maria e Ramires, é o Cardozo que faz falta, os jogadores que tiveram de disputar o Mundial, os adversários que já nos conhecem melhor, o Hulk que está em grande forma. Apesar de muitas destas circunstâncias serem conhecidas, ou pelo menos prováveis, com grande antecipação (a única excepção é a lesão de Cardozo), JJ nunca admite que foi ele que não foi capaz de lidar com as mesmas e encontrar as devidas e necessárias soluções, como lhe competia. Nunca.

As suas penosas declarações no final do jogo de domingo passado são sintomáticas disso mesmo. O fcp está forte, o hulk está forte, nós fizéssemos o que fizéssemos nunca conseguiríamos contrariar este grande poderio. Uma vergonha, estas declarações. Declarações de um derrotado à partida, de um líder sem confiança nos seus liderados que recorre a soluções desesperadas porque não confia na qualidade do grupo que comanda.

Ou então, são declarações de quem está com pena de não estar do outro lado, de não ter aceite o convite que lhe foi feito e estar agora a comandar a equipa dos lançadores de bolas de golfe. E ver outro, ainda por cima muito jovem, a ter o sucesso e os louros que lhe poderiam caber a ele.

Convido Jorge Jesus a fazer uma profunda auto-reflexão e auto-crítica e a pensar se quer de facto continuar a ser treinador do Benfica. Para isso, precisa de o ser de alma e coração (e cabeça). De confiar nos seus jogadores. De saber encontrar soluções inteligentes e eficazes para as dificuldades.

Nenhum Benfiquista esquece a época passada. JJ é o mesmo (ou melhor, é a mesma pessoa - logo poderá voltar a ser "o mesmo"). Voltar ao caminho do sucesso, com JJ no comando, deveria ser possível. Mas a vontade e a crença têm de começar nele e com ele. Caso contrário, não há nada a fazer.

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