Os ídolos e os pés de barro

A actual pré-temporada deveria servir para os benfiquistas reflectirem muito bem quanto aos ídolos e símbolos do clube. Depois da 'novela Nuno Gomes', com uns a considerarem que foi desconsiderado e outros a entenderem que já ia tarde, muito se discutindo sobre o seu benfiquismo, temos o vai/não vai de Fábio Coentrão. Elevado à categoria de símbolo do Glorioso pela atitude em campo, tem deixado muito boa gente de pé atrás neste processo de contornos pouco claros, mas em que a atitude do jogador acaba por decepcionar-nos.
É, pois, tempo de sermos mais prudentes quanto a quem consideramos portador daquilo a que vulgarmente designamos mística benfiquista. Não podemos nunca esquecer-nos de que, antes de mais, são profissionais e nem sempre o que corre mais é o mais benfiquista. Quando comecei a ver futebol, o jogador mais controverso era o grande Nené, sobretudo por causa daquele estilo de não sujar os seus calções. Ninguém ousará discutir o seu benfiquismo. Mais tarde, apesar de gostar muito dele, fazia-me alguma confusão a tendência para considerar como símbolo do Benfica alguém que fizera no nosso clube apenas os primeiros anos como profissional, emigrando assim que o clube conseguiu fazer um bom negócio. Agora, é nosso dirigente, ninguém põe em causa o seu benfiquismo, mas o que tinha feito até então era claramente insuficiente para que dele se fizesse um modelo.
Mas a história mais elucidativa quanto a isto de ser ou não portador dos valores do Benfica passou-se em 1993, quando estava no jornal "O Benfica". Num célebre jogo no estádio do Bessa, a certa altura, o nosso guarda-redes (Neno) cometeu 'penalty' e foi expulso. Já tínhamos feito as duas substituições permitidas na altura e logo um jovem colega, corajoso, se ofereceu para ir para a baliza: "Eu vou! Eu vou", percebemos todos quantos estávamos a ver o jogo pela televisão. Não conseguiu evitar que a grande penalidade aproximasse o adversário, que ficou a apenas um golo (2-3), mas depois impediu que a bola voltasse a entrar na nossa baliza, com algumas defesas. Terminado o jogo, logo se arranjou ali novo herói. Formado no clube, para onde viera jovem, o jornal transformou-o no novo símbolo do benfiquismo. Uma página inteira só de fotografias do nosso menino (na altura, pareceu-me um exagero...), que demonstrava como éramos competentes a formar jogadores, homens e benfiquistas. No final da época, todos sabemos o que se passou...

No comments:

Post a Comment

RGB Argentina, Australia, Brazil, Belgium, Denmark, Canada, Czech Republic, Cyprus, Chile, Colombia, Germany, New Zealand, Mexico, India, Malaysia, Philippines, Thailand, Singapore, Vietnam, Spain, France, Italy, Netherlands, Peru, Portugal, Sweden, Viet Nam, South Africa, Saudi Arabia, Greece.United Kingdom, United States

Search This Blog

Blog Archive